ZERO
>> terça-feira, abril 22, 2008
A confiança me deixou mais uma vez na mão. Esperava ao menos uma nota razoável na dissertação que fiz para uma disciplina do curso de Direito.
Zero.
Assim mesmo, cruzinho, sem dó nem piedade.
Pensaram que estava de brincadeira. Antes fosse! Fiquei intrigada. Só o que passava pela minha cabeça era “puxa que vexame! n consegui escrever nada que valesse à pena!”.
Na conversa com o professor em particular, obtive a crítica que faltava para acalmar o meu ego ferido de aluna dedicada. Acolhi a argumentação muito lógica do mestre, que me mostrou os inúmeros erros de português, resultado de um “passar a limpo” mau feito, nas pressas. Como o trabalho aconteceu em dupla, tivemos os papéis divididos. Coube à minha companheira a faina de melhorar meus borrões, tornando legível o conteúdo do texto.
Mas nada disso foi mais especial do que o inesperado conselho do digníssimo catedrático. Olhando-me profundamente, ele perguntou se eu era amiga da minha companheira. Eu respondi que éramos colegas e tal. “Torne-se amiga dela. Você tem um papel muito importante para sua colega agora. Ela precisa de você. Ajude-a no que for preciso, você pode, eu sei! Tenha a certeza de que você vai se tornar alguém muito importante na vida dela.” Disse-me isso num tom doce e atencioso.
Embasbacada eu fiquei, porque nunca iria imaginar que o professor, tão sério, competente, e, focalizado no trabalho, pudesse me dizer algo tão maravilhoso assim.
Meu Deus! Alguém se preocupa com o próximo nesse mundo!
É tão louca essa coisa de viver correndo sem prestar atenção nos outros, sem olhar nos olhos de quem está ao nosso redor, sem tocar as pessoas, que mesmo eu, que sou um poço profundo de sensibilidade, passo sem perceber tais detalhes.
E vem logo um professor que mal me conhece, que me avaliou com um zero, surpreender-me com tal observação!
Voltei pra casa com o ímpeto de melhorar muito os meus estudos na disciplina do cara e de me cobrar mil vezes mais nos meus textos, é claro. Mas voltei tocada na alma e feliz por ter testemunhado tamanha generosidade de um estranho em minha vida.
Se todos os zeros fossem assim...
Obrigada professor!
1 comentários:
Curiosidade a flor da pele!
É tentando extrair o que há de bom nas coisas "ruins" que aprende-se a viver com mais entusiasmo!
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