Bombardeio de informações. É dessa forma que o mundo do século XXI é impiedosamente atingido. A prática do jornalismo segue o signo da velocidade na produção e na reinvenção da notícia, onde o mérito está no imediato, ou melhor, na informação em “tempo real”.
Com o boom tecnológico, também explodiram os meios de comunicação por toda a parte do planeta. A existência de inúmeros veículos de comunicação e uma pluralidade de pontos de vista distintos divulgados, dão a impressão de se estar num espaço democrático em que todos os indivíduos são plenamente satisfeitos em suas necessidades e interesses.
A aldeia global de Marshall McLuhan hoje abrange com intensidade a dimensão do campo das idéias e sentimentos de cada homem.
A larga produção de notícias em escala brutal - a cada dia, hora e minuto - gera um efeito paradoxal: o telespectador/leitor se vê obrigado a acompanhar todas as informações, e por isso, não tem tempo para refletir criticamente sobre um determinado fato, porque logo outra notícia já acontece.
O que gera um sintoma fatal da globalização: a amnésia coletiva.
O indivíduo que superficialmente se apropria de outras realidades distantes, que é inserido nelas imperativamente, se sente cada vez mais só, sem identidade, sem raízes, apenas um anônimo na multidão. Essa agonia colateral da globalização mantém seus tentáculos longos e flexíveis nos lugares e povos mais remotos que se possa imaginar.
Ainda sim, observa-se um aspecto forte e intransponível que emerge nesse processo, a linguagem. Nela estão todas as características da identidade cultural de um povo. Se o meio é a mensagem, como teorizou Adorno, como falar a uma diversidade de culturas de maneira única? Confeccionar um dicionário com palavras e expressões universais, é um desafio impossível. Não daria pra atender as polissemias e ressignificados de um mesmo termo em diversas localidades, presumo.
Dentro da linguagem existem as sub-linguagens que vão sendo modificadas com o tempo e mudanças de hábitos de um povo. No entanto, muitas transformações das práticas culturais-regionais são produto desse efeito cíclico e confuso de causa e efeito da globalização.
Essa realidade é bem ilustrada no campo da moda, onde seguimentos e classes de pessoas são influenciados a consumir posturas, vestuário, atitudes não intrínsecas ao cotidiano natural delas. Como conseqüência negativa é observável a constante erotização da imagem feminina na sociedade brasileira.
A mulher foi tornada um objeto de consumo pela mídia que disseminou o arquétipo do padrão de beleza inatingível que massacra até mesmo o divino campo dos sentimentos, do amor entre duas pessoas. Hoje um deseja um ser humano incrivelmente atraente, sensual e jovem, e o outro se sacrifica para conseguir aparentar essa imagem.
Saindo do campo dos assuntos do coração (afinal de contas, são tais assuntos que movem mercados, que são alvo de ideologias e fins de consumo), a erotização do corpo não apenas atinge mulheres, mas homens. O sexo então vira produto de consumo até mesmo quando a situação não favorece essa assertiva. E o que fazer diante de tudo isso?
Cultivar um olhar mais crítico ao que está sendo oferecido, identificar as necessidades interiores reais e ser resistente à onda de imperativos alienantes exteriores.
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